Posted in Contos on outubro 1, 2007|
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Já era noite quando ela chegou em casa. Tinha sido um dia cheio. Tirou seus óculos, soltou seus cabelos recém cortados, aliviou os pés, agora fora dos saltos, e deitou-se.
Permaneceu alguns minutos na sala, repensando seu dia. Lembrou-se do frio que sentiu ao sair de manhã, e do calor insuportável na hora do almoço. A comida não estava boa, e ela reparou em um senhor sentado sozinho, no mesmo restaurante, apenas encarando o prato, sem tocá-lo. Tomava uma cerveja. Na hora do almoço, e sozinho…devia estar triste. Podia ser por uma mulher que o havia magoado. Ou poderia estar triste por uma mulher que poderia tê-lo magoado, mas nem teve a chance. É a primeira coisa que a gente pensa; culpa do sexo oposto. Mas poderia também ter discutido com o filho na noite anterior. Ou era apenas saudade das filhas que estavam longe, morando com a mãe. Ou estava triste por um problema não necessariamente dele, mas da mãe. Não são só os pais que sofrem com os problemas dos filhos, os filhos também sofrem com os problemas dos pais. Pensou em sua mãe. Cogitou ligar pra ela, mas preferiu fazer um chá. Levantou-se e pôs a água pra ferver. Enquanto esperava, lembrou-se da raiva que sentiu de um rapaz quando voltava pra casa. O sinal ficou verde e ele não andou. Ela buzinou, o rapaz assustou-se e arrancou o carro. Ele deve ter se distraído por cerca de 7 segundos. 7 segundos! E ela buzinou. 7 segundos foram suficientes para irritá-la. Mas ela nem tinha pressa, não havia ninguém a esperá-la em sua casa. Talvez fosse isso. Ele poderia estar pensando na namorada, e se distraiu, não viu o sinal abrir. Ela não tinha em quem pensar, então buzinou.
Retirou a chaleira do fogo, preparou seu chá. Pensou de novo em telefonar pra mãe. Telefonou. Disse que tinha tido um dia normal e perguntou como havia sido o dela. Não que estivesse realmente interessada, mas sentiu que deveria perguntar. Ao final da conversa, pensou em dizer à mãe que a amava, mas achou que a mãe já sabia disso. Desligou o telefone satisfeita, e tomou um banho quente. Vestiu seu pijama e separou uma roupa para o dia seguinte. Provavelmente ao amanhecer estaria frio de novo. Deitou-se, pensou em algumas coisas que deveria ter terminado, mas não quis. Terminaria amanhã. Seus livros estavam ao lado de um porta retrato, e nele uma foto com seu cachorro. Na verdade o cachorro era da mãe. Arrependeu-se de não ter dito à mãe que a amava. Sentiu saudade do cachorro e adormeceu.
O despertador tocou. Já era amanhã. Espreguiçou-se. Pensou em não ir trabalhar, mas é claro que iria. Levantou, calçou seus chinelos, sentiu frio.
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