Era o criado mais antigo do palácio. Em um dia qualquer, por distração, não curvou-se ao Rei e foi despedido. Vagando pelo Reino e vendo o filho com fome, saiu em busca de algum fruto. Foi quando encontrou a velha.
“Com licença, senhora. Meu filho tem fome. Onde posso encontrar algo para alimentá-lo?”
“Por aqui não há frutos, nem animais. Deves plantar.”
O velho pôs-se a chorar, resmungando. “Não tenho o que plantar. Que mundo injusto! Eu passando fome, e o Palácio recebendo convidados para um baile com farto banquete, que ajudei a preparar…”
Não podendo ver um homem chorar, a velha ofereceu a ele um terno que o deixaria invisível, para que pudesse entrar no Palácio. Era elegante, feito de linho fino e uma cor belíssima.
“É verdade que me deixará invisível? Todos no palácio me conhecem, trabalhei lá durante anos!”
“Ninguém o verá, eu garanto”
Vestiu o terno esperançoso e, ao anoitecer, foi em direção ao Palácio. Entrou com facilidade, o que o fez perceber que era verdade: estava invisível! Passou pelos outros criados, pelas princesas e pelo Rei, e ninguém o notou. Era inacreditável. Chegou perto da mesa e encheu os bolsos de frutas, pães e doces. Não se demorou pois a fome ficava cada vez mais forte.
Saiu rapidamente e foi até o filho para entregar-lhe tudo. A alegria do menino encheu os olhos do homem novamente de lágrimas. Comeram em meio a risadas. Foi quando o homem notou, estupefato, que não havia tirado o terno.
“Filho, podes me ver?”
“Posso sim, papai. Mas confesso que o senhor está tão elegante, que quase não o reconheci.”
*(Conto resumido, inspirado no mestrado de Fernando Braga da Costa, sobre Homens Invisiveis. Postado aqui em homenagem à minha amiga Balinha, que consegue ser bela e humilde – E me pediu um post.)